12/05/2020 | Por: Pedro Damian

Entrevista

Elias Nahssen de Lacerda

Presidente da Evonik para a América do Sul


O CEO da Evonik recebeu Borracha Atual na sede da empresa no Brasil, em São Paulo, ocasião em que comentou sobre suas novas responsabilidades, o momento da Evonik no mercado de especialidades químicas e perspectivas para o futuro.

BORRACHA ATUAL: Quais as perspectivas que este novo cargo traz?

Elias Nahssen de Lacerda: Assumi o cargo no dia primeiro de outubro passado, mas eu não sou novo de empresa. Comecei na Evonik em 1996 e passei por várias funções. Fiquei dez anos trabalhando no Brasil e em 2006 tive a oportunidade de ir para a Alemanha onde fiquei por 12 anos, voltando no começo de 2018 como responsável por um dos segmentos da Evonik, chamado Nutrition & Care e também na área financeira. Foi uma preparação bastante interessante para a posição que ocupo, sentindo-me muito preparado e confiante para os desafios que virão.

Suas responsabilidades incluem a área de borracha?

Temos uma responsabilidade regional que chamamos como presidente regional que abrange todas as áreas em que a Evonik está presente. E as matérias-primas como a borracha estão dentro dessa área abrangendo todo o Brasil. Nossa presença aqui na América do Sul e América Central está sob a minha responsabilidade.

E o centro das decisões está no Brasil?

A Evonik, como todas as empresas multinacionais, tem um centro de decisões sempre em quatro mãos. É uma matriz dos produtos na Alemanha ou nos Estados Unidos combinado com uma matriz regional. Essa decisão se encontra nesses dois pontos. É uma estrutura matricial bem tradicional nas multinacionais de hoje. Isso traz a certeza de que, por um lado estamos olhando o mundo como um todo, desenvolvendo estratégias para o mundo como um todo, e por outro lado, não estamos esquecendo a especificidade de nenhuma região. Isso é muito importante. Quando você desenvolve uma estratégia, é importante que você entenda tudo o que está acontecendo no mundo. Isso é dado pelas regiões. É uma “via de duas mãos”. 

Como a empresa avalia o mercado das matérias-primas que são utilizadas pelo setor de borracha?

Extremamente estratégico. Demonstramos isso tanto com pesquisa e desenvolvimento como em aquisições. Estamos há muitos anos no mercado, onde nossa presença está fortemente consolidada em sílicas e silanos, as áreas mais fortes para nós. Isso pode ser comprovado quando se analisa os últimos investimentos que fizemos, desde a consolidação da sílica até a construção da fábrica na cidade de Americana, aqui no Brasil; a fábrica nos EUA, outras fábricas ao redor do mundo. A Evonik mostra-se um parceiro de confiança para qualquer cliente no mundo inteiro. 

Esses investimentos feitos na América, particularmente no Brasil, têm uma modernidade tecnológica diferenciada?

Faz parte da estratégia da empresa ter os mesmos equipamentos, a mesma tecnologia de ponta no momento do investimento. Fazemos uma fábrica na Alemanha em um ano x, e essa fábrica tem a mesma tecnologia que as fábricas do Brasil, China ou de qualquer outro lugar do mundo. Garantimos a nossos clientes essa modernização. E as fábricas existentes recebem esse mesmo “banho de loja”, esse upgrade no futuro em relação à tecnologia de ponta.

Observando a indústria de pneumáticos... hoje em dia uma indústria de pneus não pode se dar ao luxo de afirmar que produziu em um lugar um pneu diferente do que produziu em outra parte do mundo. O pneu fabricado para um BMW daqui ou da China tem que ser o mesmo. Todos têm que trazer a mesma performance. Mesmo considerando as diferenças de matéria-prima, os detalhes técnicos se aproximam de uma qualidade onde o consumidor não perceba a diferença. Faz parte da padronização da marca de qualquer empresa de pneu.

Podemos dizer que, assim como a indústria de pneus, os fornecedores também estão globalizados?

Sim. Acompanhamos exatamente as necessidades dela. Tanto é que todas as aprovações, todas as exigências para fornecer para a indústria de borracha, não só de pneus, são exigências bastante altas para aprovação. Porque existe uma responsabilidade. Isso pode causar mortes. Você não pode colocar qualquer coisa dentro de qualquer sistema polimérico e esperar um resultado positivo. Nós somos muito gratos por essas exigências. E não só durante o momento de aprovação, e aí eu sou muito feliz por trabalhar em uma empresa como a nossa, por fornecer sempre a mesma qualidade. Ter produtos nessa reprodutibilidade e nesse nível é para poucos.

Qual o futuro da sílica comparando-se com o negro de fumo?

Eles são produtos diferentes. Têm características diferentes e têm exigências diferentes, assim como aplicações distintas. Sem entrar em detalhes do triângulo mágico, em que a sílica tem suas vantagens, são produtos diferenciados. A sílica abocanhou boa parte do crescimento do mercado de pneus porque havia uma exigência muito clara de eficiência na utilização da borracha em relação ao consumo de combustível. 

Estamos falando do green tyre?

Sim. Essa foi a grande mudança tecnológica que envolveu a sílica, sem contar a dispersão da sílica depois e sua combinação com os silanos, uma combinação poderosa, que dá um efeito diferenciado em uma matriz polimérica. Tudo isso trouxe um mundo diferente, complementar na linha de borracha.

Podemos dizer que o mercado de pneus de passeio já está bem suprido de pneus verdes ou tem margem para avançar nesse setor?

Sempre tem uma evolução. Eficiência é um fator que sempre procuramos ao lançar novos produtos para que sempre haja uma evolução em relação ao desenvolvimento da sílica nos produtos. Acredito que não existe um espaço para dizer que está saturado. O que satura cresce com o mercado. 

Vegetativamente...

Sim. Tem espaço para crescimento.

E o mercado de pneus para caminhões? É um segmento importante ainda?

Essa é uma aplicação diferenciada que tem exigências diferenciadas, mas, claro, tem aplicação para isso.

Haverá aplicação em pneus de caminhão?

Sim, mas será diferente. Existe uma matriz sílica/silano completamente diferente porque a borracha é diferente e existe outra tecnologia para esta aplicação.

A Evonik vê o Brasil evoluindo?
Eu tive a sorte de chegar ao Brasil em 2018 em uma época de reversão de recessão para um crescimento esperado. Esse crescimento esperado foi reduzido por diversos fatores, como a greve dos caminhoneiros, que nos custou quase 1% do PIB, eleição e tudo o mais. O ano de 2019 iniciou com uma enorme expectativa, e parte dela foi realizada. Sou muito otimista em dizer - primeiro vou falar do Brasil e depois dos outros países – que o Brasil tem uma agenda clara, está no caminho correto, parte dessa agenda já está sendo implementada. O time econômico do Brasil é fantástico e se não fizermos nada de errado e se nada de errado acontecer, temos uma grande chance de crescimento. Observando o número de investimentos em geral, não só na linha de borrachas, ou de químicos, vindo para o Brasil... consegui levantar uma lista dos 22 investimentos top no Brasil, que chega a 800 bilhões de reais. A Europa está em recessão, os EUA em uma dúvida muito grande sobre o que vai acontecer na eleição presidencial, a China em recessão para os padrões chineses – os números oficiais da China estão abaixo de 6%. Então o Brasil começa a se tornar um ponto de investimento bastante interessante. Tudo isso pode ser combinado com uma mistura que está acontecendo no mundo e que talvez nos prejudique. Não sabemos. Como o mundo está em um processo recessivo, talvez quando o Brasil estiver pronto para crescer, isso seja diminuído pelo cenário mundial. Nos outros países da América do Sul, a coisa é um pouco mais complicada. Quanto à Argentina está difícil de dizer o que vai acontecer, mas já conhecemos um pouco desse filme no ano passado; o Chile tem uma instabilidade difícil de explicar, a Bolívia vive uma anarquia coletiva bastante triste, enquanto a Colômbia pode ser uma bomba-relógio. Estamos circundados de países que precisam melhorar suas posições.

Sem citar a Venezuela...

Não falei porque a Venezuela não voltou ainda. Espero que um dia volte, tem muito potencial, tem a maior reserva de óleo do mundo e por isso esperamos que volte para o que era antes. Isso tudo cria uma imagem perante a nossa matriz. Em nenhum momento a nossa matriz deixou de pensar no Brasil de uma forma estratégica, nem mesmo a América do Sul de uma forma estratégica. Tanto que os investimentos da indústria química nos últimos cinco anos foram dos maiores. Nunca deixamos de pensar em nossa região como uma região de crescimento.

A visão da matriz quanto ao Brasil não foi tão contaminada pelos nossos vizinhos...

A matriz entendeu o que é a região. Fazer negócio na América do Sul não é para amadores. Para estar aqui tem que ser bom. Tem que matar um leão por dia senão ele te mata. Ter esses profissionais preparados é o nosso grande desafio e acho que a matriz entendeu que é dessa forma que vamos liderar e levar a Evonik para a frente. 

O que acontece aqui não acontece em nenhum lugar do mundo...

É diferente. Acontecem outras coisas em outros lugares do mundo que também são diferentes. Todo mundo tem essa tendência de dizer que eu sou diferente. Só que aqui temos uma complexidade um pouco maior. Se você não está acostumado e não entende, não permeia nos caminhos certos para sair dessa complexidade, acaba morrendo na praia. Para isso temos que ter profissionais de qualidade.

Já tivemos a reforma da previdência que ajudou um pouco a economia e pretendemos ter ainda esse ano as reformas tributária e fiscal. Isso deve alavancar a nossa economia? 
Claro. Há dois anos acumulo as funções de CEO e CFO aqui na Evonik do Brasil, então tenho responsabilidade pela área de finanças e a parte tributária é realmente desafiadora.

Mesmo para a Evonik, que é uma empresa grande?

Exatamente. Na verdade isso não é uma particularidade nossa ou minha, isso é para todos. O Brasil vai ter que simplificar os processos. 

Acredita que vai acontecer?

Vai acontecer. Gradativo, primeiro nos impostos federais, depois nos estaduais. Se o Brasil quiser ter uma posição mundial de verdade no futuro, isso vai ter que acontecer. Precisa acontecer.

Sua visão do Brasil é a de um país no mesmo ritmo de globalização da Ásia?

A Ásia tem um passo completamente diferente. As lições de casa na Ásia foram feitas. Precisamos fazer as nossas agora. Falamos do potencial do Brasil. O mundo fala do potencial do Brasil há muito tempo. Mas precisamos fazer esse potencial virar realidade. Essa é a função de qualquer brasileiro que trabalha aqui na região: fazer o potencial do país despontar.

Como está a educação no Brasil e a formação de mão de obra especializada?

Toda a política de educação que tivemos no passado (e sem entrar em termos políticos) prejudicou bastante. Vemos pelas estatísticas que as pessoas saem do segundo grau sem saber ler e escrever plenamente. Conheço um professor de matemática que me afirmou que há crianças da quinta série que não sabem fazer contas na calculadora. Não é que não sabem apenas fazer conta. Não sabem fazer conta na calculadora. O grande objetivo dele agora é ensinar os alunos a fazerem conta na calculadora. São essas deficiências que vamos passando no dia a dia, no ano e vai chegar uma hora que essas pessoas vão estar no mercado de trabalho. São esses indivíduos que teremos disponíveis. Com toda a disposição, com toda a vontade de trabalhar, com toda a flexibilidade e criatividade do brasileiro, são essas pessoas que vamos receber. Em menor ou maior qualidade, podemos falar em vários níveis. Lógico que teremos estudantes vindo de universidades de ponta, que estudaram nos melhores colégios, mas são poucos. Há gente muito boa, muito bem qualificada em nosso país. E para as empresas de hoje torna-se uma obrigação treinar seu pessoal para executar as funções. Senão, não teremos os nossos produtos na qualidade que os nossos clientes esperam.

As empresas hoje precisam treinar a sua própria mão de obra qualificada?

Sem dúvida. E nisso somos extremamente dedicados. Faz parte do DNA da Evonik. Uma empresa de especialidades químicas tem que ter especialidade em pessoas. Seja ela quem faz a limpeza de nosso escritório ou quem está no nível mais alto de nossa empresa. Todos. Nós temos uma exigência de treinamento bastante forte. 

Vemos que os empregos no futuro serão cada vez mais exigentes, seja por conta da digitalização, informatização e indústria 4.0. A tendência é aumentar o desemprego?

Não sei se serão exigentes ou diferentes. Aquilo que era válido no passado talvez não seja no futuro. Tenho oportunidade de ouvir vários diretores de universidades, instituições de ensino e vejo que a grande preocupação é que as pessoas não se preocupam mais em se formar. O título já não tem mais peso. Porque o conhecimento já não está mais na cabeça do professor. Na minha época (tenho 45 anos), quando entrei para a faculdade, chamávamos o professor de mestre. Porque era assim que nós, os alunos, que estávamos ali para aprender, o considerávamos. Hoje o conhecimento está disponível. No futuro teremos muito mais uma troca de conhecimentos do que a concentração do conhecimento em uma só pessoa que vai distribuí-lo para o resto da classe. As pessoas vão sentar para discutir um assunto e estarão preparadas para isso com um conhecimento que podem ter adquirido em qualquer lugar do mundo.

Isso é uma disrupção?

Total. Outra grande preocupação é que, mesmo as pessoas que têm acesso ao ensino de ponta, já não querem estudar mais em nosso país. As instituições de ponta têm a  preocupação de fazer com que elas fiquem aqui, fazendo parcerias com as universidades de fora. Assim, os universitários têm dois títulos, um aqui e outro no exterior. Você estuda em uma universidade de ponta aqui no Brasil e outra de ponta nos Estados Unidos, na Alemanha ou na Europa. Faz metade do ano aqui e metade do ano no exterior. Estão tentando inovar também.

Qual a estratégia para reter talentos aqui no Brasil com tantos atrativos oferecidos pelo exterior?

Todo lugar tem o seu momento para a pessoa estar ali ou não. Eu passei muito tempo fora do Brasil. Fiquei doze anos na Alemanha e nesses doze anos viajando pelo mundo, podemos ver que nosso país não é tão ruim assim. Apesar do que as pessoas pintam, falam que querem ir embora... Tem muita coisa positiva em nosso país que mais cedo ou mais tarde os brasileiros vão começar a reconhecer. Daí é um processo natural, de ir ou não ir. E as fronteiras cada vez mais vão diminuir, haverá cada vez mais pontes ao invés de muros. Essas pontes permeiam as fronteiras entre um país e outro, e as pessoas irão para onde forem chamadas. 

As guerras comerciais não existirão mais no futuro em função da interdependência das nações?

Não acredito pois sempre existirá o ser humano. E enquanto existir o ser humano, poderão existir interesses políticos e várias outras coisas. Sempre vai fazer parte. Temos um centro de inteligência aonde tentamos desenvolver cenários para o futuro. Cenário de cooperação total, cenário de disrupção total, cada país construindo um muro em volta de si e se fechando dentro dele ou sem muro nenhum e todo mundo cooperando com todo mundo para ajudar com os problemas, cenários onde há 100% de conscientização em relação ao clima. 
Vemos que será uma mistura de tudo isso. Não podemos dizer que isso não vai existir. 

Num contexto Oriente-Ocidente, como podemos inserir a sustentabilidade e o aquecimento global? Como as empresas abordam isso?

Primeiro, isso de fazer tudo certinho na Europa não é verdadeiro. Não que eles façam errado, mas o nosso modelo mundial de negócios é um modelo falido. Se pegarmos a melhor forma, vamos pensar em uma pessoa da classe média alemã, como ela vive hoje. Ela recicla os plásticos que usa, tem uma qualidade de vida bacana, mas sem exageros etc. Se tentarmos aplicar isso para uma população mundial de aproximadamente 7,5 bilhões de pessoas, não teremos água suficiente para isso, não teremos energia suficiente e não teremos recursos suficientes. Então o mundo não poderia viver como essa pessoa na Alemanha. Por isso, chamo de modelo de gestão falido. Temos que mudar se falarmos de sustentabilidade de verdade, temos que desenvolver um modelo de gestão diferente para o mundo. Senão sempre teremos pobres e sempre teremos ricos. E sempre teremos mudanças de clima. É desafiador demais. 

Salvo engano, se começamos o ano em janeiro, no mês de abril já teremos consumido todos os nossos recursos recicláveis. Daí para a frente já estaremos destruindo e consumindo novos recursos naturais. Todo ano. Em vários pontos. 

E a população sempre crescendo, as demandas sempre crescendo...

E a população não só está crescendo como envelhecendo. Estamos preparando uma população para viver mais de 100 anos.  Então precisamos nos acostumar com a idéia de viver 100 anos. 

Alguns afirmam que o bebê que viverá 130 anos já nasceu....

É verdade. E nossa expectativa de vida já foi lá para cima. Muita coisa no modelo de gestão atual tem que mudar. Por exemplo, a aposentadoria. Você não pode se aposentar com 60 anos e viver até 90 anos. São 30 anos sendo sustentado. Tudo isso será alterado. As fases da vida estão aumentando. De 0 a 25 anos, de 25 a 50, de 50 a 75... Na relação trabalho/aposentadoria, você está ganhando uma fase. E essa fase vai ser de conhecimento ou de trabalho. Na minha visão haverá uma mudança completa e muito grande no mundo como um todo.

Isso falando de sustentabilidade. Sustentabilidade tem vários pontos e várias definições. Tem que ter economia de recursos. Tem que ter melhoria de produto e tem que ter a otimização daquilo que temos. Exatamente aí está o eixo da Evonik. Em tudo o que fazemos. Faz parte do DNA da Evonik ajudar nisso. Seja na sílica que vai no pneu, seja no aminoácido que vai na nutrição animal, que ajuda a reduzir muito a quantidade de alimento que damos para o animal crescer saudável.

Você pode explicar quais são as áreas principais de atuação da Evonik? Qual a contribuição da empresa para melhorar a qualidade da vida e a sustentabilidade no mundo?

Hoje temos três segmentos, um chamado “Nutrition & Care”, um segundo segmento chamado “Resource Efficiency” e o terceiro chamado “Performance Material”, materiais de performance. Sílica e silanos estão dentro de Resource Efficiency, segmento relacionado com tintas, adesivos e materiais em geral na área de indústria. Nutrition & Care está muito relacionado ao dia a dia do ser humano: nutrição animal, farma, toda a linha de Care, que são espumas de poliuretano, partes de amaciantes de roupa e produtos de cosméticos. Não que os outros não sejam (o pneu faz parte do dia a dia da humanidade), mas os produtos estão em contato direto com o ser humano. Em todas essas linhas, se for somar, são mais de 50 indústrias diferentes com uma quantidade de produtos enorme. Essa diversificação da empresa faz com que ela tenha uma estabilidade. Se um mercado vai mal o outro compensa para continuar investindo em todos esses mercados que definimos como estratégicos. 

Esses mercados são equivalentes ou algum deles se destaca?

Os três segmentos são equivalentes. Mas dentro deles temos o que chamamos de linhas de negócios, as Business Lines, que são 17. Sílica é uma delas e silano é outra. 

Como será o crescimento destes grupos no futuro? 

Há três anos tivemos um novo CEO global que traçou uma estratégia para a Evonik se transformar na maior empresa de especialidades de todo o mundo, baseada em três pilares muito importantes: investimento em novas tecnologias, com muita inovação, e com muitos recursos para inovação; balanço de portfólio bastante adequado, ou seja, aquilo que não pertence ao nosso futuro, não demorar muito para pertencer ao nosso futuro, fazer produtos que contribuam para isso, não fazer produtos que não façam parte de nossa estratégia nesse balanço de portfólio mundial. Esse foi um dos motivos pelos quais vendemos a linha de metacrilatos, pois acreditamos que estar nas mãos de outro dono poderia ter mais vantagens do que estar nas mãos da Evonik pelo foco de nossa empresa.

O terceiro ponto muito importante é a cultura de cooperação dentro de nossa empresa. Você só muda uma empresa quando muda as pessoas. Quando culturalmente as pessoas entendem esse novo...

O modo de pensar...

O modo de pensar e tudo o mais, relacionando inovação, o nosso portfólio e cultura, mudando isso. O CEO acredita, e nós também, que conseguiremos crescer mais do que o PIB de todos os países. 

Globalmente falando...

Globalmente. Essa é a idéia. Ele não definiu um número, mas disse que se o mundo está crescendo 2%, a empresa tem que crescer mais do que isso. 

Então necessariamente vocês vão avançar em novos mercados...

Em tecnologia. Organicamente todos crescem de qualquer forma, então se lançamos um produto novo, crescemos mais do que o PIB. Essa é a característica de uma empresa de especialidades químicas. Com isso ele joga um desafio tanto culturalmente quanto tecnologicamente para as tecnologias saírem do ponto morto. Aqueles que ficam para trás, crescem só orgânico.

Dependem do mercado...

Depois de só crescer organicamente, você se adequa para ser competitivo. Se fabricar apenas um produto que tenha um ciclo de vida, você morre naturalmente. Kodak e Olivetti são exatamente exemplos desse tipo. Se não investir em tecnologia, não conseguirá fazer isso. E essa é a nossa ideia, por isso as especialidades químicas.

Podemos colocar o Brasil dentro dessa onda, de uma maneira ou de outra?

Claro. Isso é mundial.

A Evonik lançará quantos produtos no Brasil em 2020 - em borracha e em outras áreas?

Em borracha teremos quatro (duas sílicas e dois silanos) e em outras áreas, diversos. Centenas. A fábrica de Americana com dois anos e meio de funcionamento traz uma vantagem bastante competitiva para nós. Somos os únicos produtores de sílica de alta dispersão no Brasil. Isso vem acompanhado de toda a tecnologia desenvolvida.

O mercado deseja essa tecnologia?

Esse é o produto do futuro. Isso mostra que trazemos tecnologia de ponta quando investimos. Não trazemos tecnologia secundária. E não importa o país. Imagine o Brasil com todo o potencial que tem aqui. Investimos em tecnologia de ponta. 

E a economia circular?

Nós temos acordos e projetos com vários clientes para atender essa parte. Costuma-se resumir à parte logística e não é só isso.

É o mais simples...

É só o mais palpável. Temos vários projetos sendo feitos nessa área e não vai parar por aí. Faz parte de nosso DNA. Estamos abertos e isso vale não só para o cliente. Vale para todo mundo. Neste ponto, para ajudar o mundo, com os concorrentes, por que não? Para pensar de uma forma aberta, como podemos de uma forma inteligente ajudar a melhorar o mundo.

Temos que pensar diferente. O que valia no passado vai valer para o futuro?

O mundo tinha um pensamento sempre de maximizar. Maximizar fábricas, maximizar pessoas... Se pensarmos de verdade, tudo o que você maximiza, você mata. Maximiza seu corpo, você morre. Maximiza seu carro, funde o motor. Tudo o que você maximiza, você destrói. Nunca conheci uma maximização que tenha dado certo. Por que as empresas que maximizam os lucros vão dar certo? Acho que a empresa do futuro não irá procurar maximizar nada, vai procurar ter um lucro razoável para continuar crescendo, continuar em um patamar de estabilidade a longo prazo. A expressão que usamos muito aqui é prosperidade. Claro que temos shareholders que têm objetivos, investem dinheiro, esperam retorno... eu não estou discutindo isso. Temos que cumprir com todo o retorno de nossos investidores.

Temos que sempre pensar que estamos sendo sempre razoáveis com todos. E esse ser razoável tem várias implicações no mundo como um todo. Nós não vivemos em uma bolha. Nossa empresa deixa isso muito claro. Temos uma responsabilidade muito forte com nossos colaboradores e com o mundo para deixá-lo melhor. Do jeito que já está hoje não é um modelo para o futuro, temos que pensar juntos e contribuir como empresa e sociedade para um modelo novo. Esse é o nosso compromisso. Não é fácil. Mas estamos comprometidos.
São pequenas coisas. Há um mês, eu te receberia com uma garrafinha de plástico. 

Agora é vidro...

Isso não veio de mim, veio de nossos colaboradores. Escutamos todo mundo. As pessoas estão trazendo naturalmente as mudanças.

O Brasil, apesar de ter ficado atrasado em alguns setores, pode, nessa nova onda, entrar com vantagem ou mesmo de igual para igual com outros países?

Sim, temos aqui gente muito criativa, de fácil trato... O brasileiro aprende muito rapidamente. É interessado em aprender, quer aprender. A nossa integração de culturas, de raças, de pessoas no nosso país é espetacular. Não é uma integração de mentira, é uma integração de verdade. Nós somos o país diverso. Essa diversidade traz desafios, mas na hora que esses desafios forem colocados no caminho certo será de um potencial muito grande.

Não pode dispersar...

Por isso é que o brasileiro, quando vai para uma estrutura organizada, não tem pra ninguém.

O brasileiro, de maneira geral, é humilde para aprender, o que não ocorre muitas vezes com cidadãos de outros países...

E o brasileiro não só aprende, como aprende melhor. É incrível a capacidade do brasileiro em aprender e fazer alguma coisa diferente.

Arrisca um palpite de crescimento para este ano?

Não, mas acredito que este ano será melhor que em 2019. Temos que acreditar em nosso país, muitas coisas estão sendo feitas de maneira positiva, a indústria em geral tem uma obrigação com os nossos colaboradores e com a sociedade de fazer do Brasil um país de ponta.


Elias Nahssen de Lacerda, de 45 anos, iniciou sua carreira profissional na Evonik há mais de duas décadas. Ocupou diferentes posições em diversas linhas de negócio do grupo e possui vasto conhecimento da empresa e do mercado de especialidades químicas. Desde outubro de 2019 ele é o CEO da Evonik do Brasil.

Formado em Engenharia de Produção Química pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI); completam sua formação acadêmica o MBA Executivo pela BSP – Business School São Paulo/Toronto Rotman Business School; e Pós-Graduação em Global Key Account Management Certificate Program, pela St. Gallen/Columbia Business School, além de especializações nas renomadas escolas de negócios International Institute for Management Development (IMD) e finanças na SGMI Institute of Management St. Gallen, ambas na Suiça.