Entrevistas  18/12/2021 | Por: Pedro Damian

Entrevista

Breno Leme Asprino Neto, diretor executivo da Polimix

O Brasil pode ser modelo do mundo em sustentabilidade.


O diretor executivo da empresa Breno Leme Asprino Neto recebeu a reportagem de Borracha Atual para uma entrevista em que conta a história da Organização, e principalmente as atividades da Polimix Ambiental e seus trabalhos com reciclagem de borracha e economia circular.

BORRACHA ATUAL: Poderia fazer um breve histórico da Polimix?

Breno Leme Asprino Neto: A Organização Polimix é uma tradicional empresa do segmento industrial, no ramo de materiais de construção civil. É uma empresa brasileira de 45 anos no mercado. Desde 2005 partimos para um plano de diversificação, com investimento em novos negócios. Hoje a Polimix Energia investe em geração de energia renovável, a gás, solar, eólica e biomassa. Somos um gerador de energia.

Este foi o início do nosso plano. Investimos em outros negócios como cal e argamassa. Como temos indústrias, fizemos várias viagens para a China, que é o principal mercado para a compra de equipamentos industriais. Em uma dessas viagens, conhecemos a tecnologia da economia circular de artefatos de borracha e de pneus. A China tem uma grande necessidade de energia e por este motivo investiram muito nessa tecnologia de transformação do pneu em energia.  Visualizamos isso no ano de 2013, visitando uma planta e conhecendo um fabricante. Gostamos do que vimos, fizemos uma detalhada avaliação e decidimos investir , vislumbrando um grande potencial para a economia circular. 

Economia circular é um caminho sem volta e os recursos são finitos. Não tem como acreditarmos que nos próximos anos continuaremos usando o recurso uma vez só. É finito! Temos que recuperar. Temos que ter essa economia circular. Então vimos a oportunidade de um negócio diferente, disruptivo e sustentável. É um negócio onde podemos ter escala mundial, considerando que borracha e pneu existem no mundo inteiro. Além do fato de que, provavelmente, continuaremos usando estes dois materiais por um longo tempo, garantindo a continuidade da escala de produção e a busca de materiais sustentáveis. Assim entrou em operação comercial, a partir de 2015, a Polimix Ambiental, uma empresa de economia circular de artefatos de borracha e de pneus.

"Economia circular é um caminho sem volta e os recursos são finitos.”

A Polimix usa tecnologia chinesa ou desenvolveu a sua própria?

Na verdade, usamos parte da tecnologia deles, mas aperfeiçoamos por aqui. Trouxemos para nosso conceito de produto que é brasileiro e ocidental. O foco da China, que é carente em termos de energia, é energia e óleo. O nosso foco industrial não é somente o óleo, mas também o carbon black, o negro de carbono. Nosso produto é recovered carbon black, como todos falam no mundo (RCB). 

O negro de carbono que produzimos hoje na Polimix Ambiental é diferente daquele feito na Índia e na China, países que não conseguem chegar nas propriedades atingidas por nós aqui. Para chegarmos a este nível, tivemos que investir em tecnologia e processos, usando a base do que eles produzem e fazendo melhorias em equipamentos e processos, enfim, transformando a indústria.

Podemos dizer que a Polimix é uma das pioneiras nas questões de sustentabilidade nesse segmento? 

No Brasil, somos um dos pioneiros na escala industrial. Há outras plantas pequenas, mas com produção bem menor. Desta forma, podemos afirmar que somos os pioneiros nesta escala de produção, onde o processo ainda está em desenvolvimento iniciado em 2015. É uma indústria disruptiva, mas em desenvolvimento. Não existe nenhuma planta em escala industrial no Brasil igual à nossa, tampouco na América Latina. Somente nos Estados Unidos e na Europa encontraremos algo parecido.  

Então a escala de produção é um fator importante?

A Polimix Ambiental é basicamente um processo de recuperação de material, onde entra um material, a borracha, recupera-se a matéria-prima, os materiais que estão ali dentro e saem novos produtos. Esse processo de recuperação, que é uma pirólise, conseguimos fazer em laboratório. É possível utilizarmos uma borracha em um processo de pirólise que nada mais é do que uma degradação de um material sem oxigênio; não se queima o material pois não tem oxigênio, decompõe-se o material. Isso sim é possível fazer em laboratório. Entrar de um lado borracha e do outro lado sair o óleo, o negro de fumo...

Nesses anos em que estamos transformando e desenvolvendo, a Polimix conseguiu atingir um padrão de repetibilidade. Isso é uma indústria, isso é replicável, a manutenção da constância. O material que entregamos aos nossos clientes é o material que está dentro de uma especificação, que foi acordada. É a repetibilidade. O grande diferencial da Polimix Ambiental é conseguir repetir o produto em escala industrial. 

Nessa linha do “caminho sem volta” a Polimix atua sozinha ou tem parceria com outra empresa ou mesmo com a Reciclanip?

Hoje desenvolvemos a nossa logística de matéria-prima, de borracha e de artefatos de borracha com coletores. Existe toda uma cadeia de coletores para isso, que já existia ou que agregamos. Hoje temos uma cadeia própria de fornecimento de nossa matéria-prima.

Uma das grandes dificuldades na reciclagem de pneus ou artefatos de borracha maiores é justamente a logística de como obter a matéria-prima?

A borracha é um produto que as empresas gastaram muito tempo para desenvolver. Por que? Porque cada borracha tem a sua propriedade. Rasgo, abrasão, dureza, flexibilidade... Então, para se atingir essas propriedades, é muita pesquisa e desenvolvimento. Investimento em materiais, produção. Esse é o lado bom. E agora, como se destrói isso? O que conseguimos hoje é transformar tudo isso em uma economia circular, contínua. Esse é o desafio, a dificuldade do mercado e isso é o que a Polimix está proporcionando, essa continuidade do material. Hoje a Polimix Ambiental é uma empresa que foi feita para o mercado, para os clientes, para fornecer produtos sustentáveis de economia circular.

“A Polimix Ambiental é uma empresa que foi feita para o mercado, para os clientes, para fornecer produtos sustentáveis de economia circular.”

Como é a tecnologia de transformação do material?

A transformação se dá através de pirólise, que pode ser feita com vários tipos de materiais como, por exemplo, plástico ou biomassa. É um processo térmico sem oxigênio ou com pouco oxigênio, mantendo a temperatura e a pressão controlados. Decompõe-se o material (processo de cracking), fragmentando-o e separando-o. Então temos o “input”, que é a borracha e o “output”, onde separa-se em materiais. 

O balanço de massa da Polimix Ambiental é para cada 100% de borracha que entra saem quatro subprodutos: o primeiro é o aço na trituração. O segundo é o óleo. Do reator saem gás e o material sólido. O gás é condensado e obtemos um óleo de pirólise. O terceiro é o negro de carbono recuperado. O quarto é o gás que não foi condensado. Esse gás é um subproduto para manter o nosso processo térmico e os nossos reatores funcionando. Então o nosso processo é auto-suficiente. 

Os três produtos que comercializamos são sucata de aço, óleo de pirólise e o negro de carbono recuperado.

A pirólise é feita após a trituração do pneu? 

Na verdade, na pirólise entra a borracha já triturada, que é processada e saem o gás, o óleo e o negro de carbono. 

O aço já havia sido retirado...

Sim, 99% do aço é retirado antes. Depende do artefato, mas no caso do pneu, a retirada é feita antes, sim.

A logística e a retirada da matéria-prima com seus fornecedores é feita pela própria empresa. Para quem seus produtos são vendidos?

A sucata de aço é vendida para siderúrgicas, que usam muito aço reciclado (aproximadamente 55%). No futuro, faremos uma segunda geração para vender para fundição. O segundo produto, o óleo, vai para queimadores, os boilers. É um óleo verde, de economia circular. Tem as mesmas características do óleo do mercado, só que com baixo enxofre e PCI alto. As indústrias que necessitam de óleo em seu processo industrial, ou em um queimador, ou em um secador, ou ainda em uma caldeira, utilizam esse óleo. É um óleo para a indústria.

O terceiro produto é o negro de carbono recuperado, que é o produto que tem mais etapas no processo industrial, passando por outros processos adicionais depois, como a micronização e a peletização, para atender às características físicas e técnicas. Visualmente ele é igual ao negro de carbono convencional, mas possui diferenças nas características técnicas. 

Ele pode ser usado isoladamente no artefato de borracha ou deve ser incorporado com material virgem?

Pode. O nosso negro de carbono recuperado é utilizado em artefatos de borracha, pneus, correias transportadoras, borracha, plásticos em masterbatch (pigmentação), em várias linhas de masterbatchs e no início de 2022 também estaremos presentes em tintas. 

Conseguimos atuar em vários segmentos em que o negro de carbono convencional atua. Depende um pouco da peça que será feita e do que será feita. Existe a substituição total, 100%. Você retira um e coloca outro. Não quer dizer que o processo do cliente seja o mesmo. Ele faz algumas correções próprias. Existe cliente que consegue trocar 100% e existe cliente que faz a substituição parcial. 

Sua matéria-prima é utilizada em mercados mais exigentes ou somente em artefatos básicos?

Hoje temos clientes que fabricam pneus; uma das grandes pneumáticas são nossos clientes desde 2016 - e estamos em processo de aprovação em mais duas. Acreditamos na aprovação em ao menos mais uma. São processos longos, de dois anos. Óbvio que dentro de um pneu são vários grades de negro de fumo e eles já conseguem fazer a substituição de alguns tipos e de algumas estruturas do pneu. Também conseguem fazer a substituição parcial de mangueiras, trafilados - peças com flexibilidade, dureza, abrasão - correias transportadoras, masterbatch, pigmentação (alguns clientes conseguem 100% em algumas aplicações). Estamos cada vez mais junto de nossos clientes, aumentando a gama e aumentando a aplicação do produto.

Podemos dizer que os clientes vêm atrás de vocês ou vocês vão atrás deles?

Todas as empresas hoje buscam a sustentabilidade, de uma forma ou de outra. A palavra sustentabilidade é um pouco ampla, mas elas buscam nos seus produtos, nos seus processos, nas suas matérias-primas, nos seus insumos, utilities (combustíveis). De uma forma ou de outra, todas estão buscando. Então vamos atrás dos clientes e eles vêm atrás da gente, entendendo o produto, buscando uma forma de utilizá-lo, sabendo que ele não é igual ao negro de fumo normal. Tem que ter os seus ajustes.

Agora, ele tem diversas propriedades que o negro de carbono convencional tem. Vamos dizer que os dois estão procurando. É uma parceria. Nenhum cliente que nos procurou,  foi embora depois por problema de produto. É uma parceria de longo prazo. 

“Nenhum cliente que nos procurou, foi embora depois por problema de produto. É uma parceria de longo prazo.”

A tendência é a fidelização do cliente?

Sim. Óbvio que é um processo de fórmulas e de ajuste de produtos. Precisamos, assim como no passado, da utilização da sílica para elaborar a composição do pneu. Foram vários anos de trabalho, de ajustes e de mudanças, até que finalmente chegou-se a um produto adequado tanto tecnicamente como economicamente.

Estamos falando do “Green Tire” (pneus verdes)?

Sim, isso mesmo, o “Green Tire”. É uma busca de ambos os lados. As empresas buscando o “Green Tire”, os pneus verdes e nós desenvolvendo isso para eles. Não só para eles, mas para todo o mercado que utiliza, para cada cliente que precisa e esse desenvolvimento é mútuo. Entendemos o que eles precisam, e com base nisso, fazemos alguns ajustes no processo para entregar.

A indústria de pneus sempre foi mais cobrada para reciclar seus produtos do que as fabricantes de artefatos leves de borracha, que só se livravam do scrap (resíduo) que tinham. Essa visão das indústrias de artefatos de borracha está mudando?

Acredito que sim. Falando das empresas brasileiras do nosso segmento, acho que cada vez mais a consciência é um mix da pressão que vem de fora com uma necessidade existente de reduzir os desperdícios internamente. Uma das piores coisas para uma empresa é desperdício, que é custo. A redução da quantidade de scrap somente é atingida após investimentos. 

As indústrias perceberam que não é só produzir por produzir, de qualquer jeito. Tem que ter os indicadores, menos erros na produção, isso é um lado. O outro é: “qual o destino do meu produto depois?”. As empresas têm essa preocupação. Estão construindo essa logística reversa, buscando formas de colocar essa economia circular na frente. É fácil visualizar isso no nosso segmento de borracha, que é um segmento antigo. Vemos empresas de tecnologia, de iphone, estão todos já preocupados com a cadeia, o que farão com o lixo, com o resíduo dos produtos. 

Então isso é uma oportunidade! As pessoas já não entendem isso mais como um problema, mas como oportunidades. Óbvio que isso é uma consciência. Tem uma parte que vem de uma pressão externa ao Brasil, no âmbito governamental. Mas a própria consciência das pessoas e oportunidades geram isso, o que é muito mais efetivo. A conscientização funciona mais rapidamente do que a obrigatoriedade em fazê-lo. Visualizamos a oportunidade. Quando nossos clientes conhecem a Polimix Ambiental, eles querem o produto, e também visualizam isso. 

“As indústrias perceberam que não é só produzir por produzir, de qualquer jeito.”

A Polimix é um elo da cadeia da economia circular?

Sim, é parte da economia circular. Fazemos esse processo ser contínuo porque fazemos o circuito inteiro. 

Como está a mão de obra para esse tipo de processo, seja dentro de sua indústria como nas outras empresas?

Temos as mesmas dificuldades que as outras indústrias brasileiras. Há um gap de educação e de profissionais formados. O nosso ensino médio deveria ser mais profissionalizante para formarem profissionais com um mínimo de preparação para  a indústria desenvolvê-los. A Polimix como organização trabalha muito com os jovens. Temos como filosofia buscar esses jovens entrantes no mercado para desenvolvê-los. Educação pelo trabalho. Desenvolvê-los dentro da organização. Na Polimix Ambiental é da mesma forma. Os profissionais que estão hoje conosco chamamos de integrantes. Nossos integrantes chegaram jovens e estão crescendo dentro da organização. Esse é um problema estrutural do Brasil. A falta de mão de obra pronta, que vem de uma escola, de um centro técnico. Sofremos o que o mercado sofre. 

Falta algum curso profissionalizante na área ambiental? 

Não. O que falta ao Brasil como país é investir no ensino médio profissionalizante. Analisando os países desenvolvidos, 50% da população não está nas universidades, mas são técnicos. A universidade forma advogados, médicos e engenheiros. Mas mecânicos, eletricistas, programadores podem ser formados em centros técnicos. Isso pode ser feito no ensino médio como uma continuação. Isso é o que falta para nós.

Há carência de cursos técnicos?

Não precisamos de uma grande escola disso, mas sim mais integração com as indústrias. Isso não é um problema nosso. É um problema estrutural do Brasil. Quando falamos em mão de obra especializada, é isso que sentimos falta. A solução é nós mesmos treinarmos e capacitarmos os profissionais que precisamos. 

Isso leva bem mais  tempo?

É uma questão de identificar qual é o problema e como resolvê-lo. Se você tem a mão de obra pronta, você faz mais rápido. Se não tem, ou você vai reclamar ou você vai fazer. Optamos por fazer. Existe um problema estrutural e nós trabalhamos para minimizá-lo. 

Há outras iniciativas dentro do grupo que dizem respeito à economia circular?

Investimos em energia renovável. A organização tem como meta ser autoprodutora de energia até 2024. E em economia circular investimos também em resíduos de obra, materiais, focados em nosso negócio de construção civil. Trazemos para cá restos de concreto para reciclar. É economia circular. O que fazemos aqui? Brita, separação e retorno para o mercado como agregado, seja como uma areia ou uma brita. Buscamos e montamos uma logística comercial no mercado de construção civil, principalmente concreto. Trazemos para cá, processamos, e vendemos para o mercado. Investimos em sustentabilidade em nossos negócios, energia renovável e economia circular na Polimix Ambiental.

Qual é a participação da Polimix Ambiental dentro do grupo? Ela já é uma empresa com receita sustentável?

Ela ainda está em desenvolvimento. Está buscando o seu equilíbrio. Dentro da organização é um negócio pequeno, mas está crescendo. Temos planos de expansão nas unidades, tendo a Polimix Ambiental de São Paulo como modelo.

Esse tipo de empresa é desenvolvida do zero ou aquisição de empresas semelhantes?

Não. O que fazemos não tem manual pronto. O manual está sendo criado por nós, espelhando-se em algumas indústrias, mas efetivamente é um negócio que estamos montando. Óbvio que algumas coisas já existem, mas o crescimento será orgânico. Hoje estamos com 50% de nossa capacidade e quando atingirmos os 100%, partiremos para a construção de novas unidades fabris. A plena capacidade deverá ser atingida ainda no ano que vem, 2022. Estamos trabalhando forte para isso. 

A atuação do setor privado brasileiro nas questões ambientais é satisfatória?

Devemos sempre querer mais no quesito ambiental. Em vários segmentos estamos bem à frente. Quando se fala como um todo... por exemplo, celulose. As florestas são reflorestamento... Nossa celulose é de reflorestamento. Além de ser extremamente competitiva, é de reflorestamento sendo um exemplo para o mundo. Nossa agricultura é extremamente produtiva e se formos comparar o que utilizamos de defensivos agrícolas proporcionalmente à área de plantio com Europa e EUA, é muito melhor. Energia renovável. Temos uma matriz com 75% de energia renovável. Poucos países no mundo têm. Então, em vários segmentos nós já temos isso em larga escala. E por que fazemos isso? Porque o Brasil proporciona e aproveitamos. Temos um arcabouço ambiental muito bom. É modelo! O que fazemos, às vezes para o bem ou para o mal, é não conseguir cumprí-lo na íntegra, seja por dificuldades burocráticas, de licenciamento e até de entendimento.

Somos modelo para muitas coisas, mas obviamente sempre podemos melhorar a parte do desmatamento e principalmente, na Amazônia, a questão social da população que vive lá. Temos dificuldades, mas acredito que temos feito bastante e podemos fazer muito mais. O Brasil pode ser modelo do mundo em sustentabilidade. Temos tudo para ser.

E como as decisões governamentais afetam todo esse processo?

Essa é a dificuldade que enfrentamos, mas o governo nada mais é do que um reflexo de nossa própria sociedade. Não conseguimos, ainda, nos organizar de forma a tirar proveito disso e sermos um modelo para o mundo. Temos que ajustar as nossas queimadas, temos que ajustar o gás metano da pecuária. Aliás, as grandes empresas da pecuária vão fazer isso, porque é mais fácil para o setor privado fazer. Na parte das queimadas temos que realizar um trabalho forte, desenvolver a Amazônia e controlar o desmatamento ilegal.

Como fazer isso de uma maneira sustentável?

Desenvolver a Amazônia é criar indústrias específicas para a região como a farmacêutica e a cosmética, aproveitando a população que vive lá e que deve se desenvolver na própria região, de uma forma sustentável e principalmente com produtos sustentáveis. E resolver a questão do saneamento básico também é fundamental. 
Os dois problemas grandes no Brasil hoje são esgoto e lixo doméstico. 50% da população não tem esgoto e muitas cidades brasileiras têm lixão ao invés de aterro sanitário. São problemas que devemos resolver. Como um todo, acho que os empresários brasileiros estão trabalhando nisso. Vários setores são modelo. 

“O Brasil pode ser modelo do mundo em sustentabilidade. Temos tudo para ser.”

O Brasil deve desenvolver um modelo próprio de gestão ambiental?

É isso. O Brasil já está fazendo isso. Por exemplo, a celulose que temos foi desenvolvida por nós mesmos. Fibra curta é produtiva, vem de reflorestamento. A preocupação entre os empresários existe, eles enxergam as oportunidades. O governo tem é que ajudar a estruturar. E fazer. 

A pressão externa, de nações ou de grupos estrangeiros, ajuda ou atrapalha o desenvolvimento de nossa política ambiental? 

Acredito que ajuda, mas nós, e quando falamos nós, empresários, temos que tomar bastante cuidado. 70% dos empregos no país são gerados por pequenos empresários, pequenas empresas. Então não são somente as empresas grandes, somos todos nós.  A pressão externa vem, mas não precisamos dela, nós queremos fazer. Gerar oportunidades. Quando enxergarmos que existe oportunidade e que você tem educação e consciência de que os recursos são finitos e vão acabar em um dado momento, se não fizermos nada para mudar este panorama, a pressão de fora acaba sendo redundante. Óbvio que muitas vezes essa pressão te dá o click. O próprio empresário brasileiro, a própria consciência, a educação cria a necessidade. 

Como está terminando este ano de 2021 e quais são as perspectivas e os desafios para 2022?

Os desafios de nosso mercado, do mercado de borracha como um todo é a inflação e o preço das matérias-primas e dos insumos, pois a inflação está alta e há escassez de materiais, tanto matéria-prima como utilities (combustível, gás). Esse é o nosso principal desafio hoje. A preocupação. A briga é preço x custo. Como controlar isso? Para onde isso vai? E o problema que o mundo está vivendo da cadeia como um todo, problemas de logística. O mundo parou três meses e voltou desregulado. 

Pensando no contexto brasileiro, 2021 foi um ano aquecido e em 2022 acontecem eleições no Brasil, inclusive a de presidente. Normalmente é um ano de poucas reformas e muitos gastos. Acredito que a demanda irá continuar em 2022. O desafio é a inflação dos dois lados (do produto, da matéria-prima e do combustível).

Há resquícios da pandemia?

Resquícios da pandemia, misturado com toda a conjuntura do Brasil. Hoje não é um problema só nosso, mas conjuntural. Se não fizermos a lição de casa, ele vai permanecer.

O setor privado, independente de presidente A ou B, está livre da política e pode andar sozinho ou a política ainda pode atrapalhar o desenvolvimento econômico e o ambiental no Brasil?

Pode atrapalhar. Se analisarmos o Brasil dos últimos anos, ou últimas décadas, veremos que nunca foi um país constante. O empresário brasileiro está acostumado a trabalhar com momentos de crise. Nos adaptamos.  É óbvio que o governo, as mudanças, a inflação, não fazer reforma, o manicômio tributário que vivemos, alto custo para produzir, tudo isso atrapalha como um todo. Atrapalha todos os segmentos, alguns mais outros menos. 

O que precisamos conseguir, em algum momento, é andar para frente e não de lado. Nossos “vôos de galinha”, nossas décadas perdidas. Uma hora precisaremos da estabilidade para poder andar para frente de forma contínua. Muitas vezes não precisa ser rápido. 

Eleição é um momento complicado. Estamos acostumados com crises. Mas precisamos de algo que dê mais estabilidade, e que leve o país a ser mais competitivo. Porque a indústria brasileira sofre muito de competitividade de insumos, matéria-prima, impostos...

A digitalização e a chegada do  5G poderá impulsionar o mercado brasileiro?

Poderá, sim. O mercado brasileiro tem muita oportunidade. Tem muita coisa para ser feita. O que irá acontecer vai depender da velocidade, que é o que atrapalha muitas vezes. Poderíamos chegar mais rápido lá na frente, mas a conjuntura política fará demorarmos um pouquinho mais. Por pura confusão política.

Precisamos é de estabilidade para os ajustes serem feitos, as reformas que precisam ser feitas, para termos competitividade. Afinal, a indústria brasileira sofre muito de competitividade. Por um lado, ela tem uma proteção de fora, por ser um mercado fechado, mas por outro lado tem um custo altíssimo para estar aqui. Isso atrapalha muito a competitividade das empresas e os investidores que querem investir no Brasil.

Como despertar consciência ambiental nas pessoas em geral?

A única forma é com educação. Quanto mais educação, mais consciência. O que é consciência? Jogar lixo no chão, queimar lixo, se você tem consciência, educação, entende o que isso pode trazer para as pessoas e para o meio ambiente. Você tem consciência, você não faz. Óbvio que regras, leis, programas, pressão externa, tudo isso ajuda. Mas tem que ter educação...

Educação na base?

Educação básica. Quando temos consciência, vemos a necessidade, criamos a necessidade, nos incomodamos com isso e mudamos. Você não está preocupado com grau... Você está preocupado com a consequência. No momento em que você tem consciência daquela consequência, o que isso pode trazer, você muda. Estamos melhorando nisso. Temos o marco do saneamento, algumas coisas estão melhorando. 

E em países grandes como o Brasil isso talvez seja até mais visível e com peso maior, porque o que se fizer aqui, afeta tudo...

Criando esse círculo, criando esse ambiente, você muda muita coisa.

Para finalizar, o Brasil tem a consciência dele. Os países em volta têm que ter essa consciência também ou não importa muito?

Afirmo que o Brasil não depende de ninguém. Temos água, comida, energia, terras agricultáveis boas. Outros países dependem.

A frase “Brasil, uma superpotência ambiental” , é verdadeira?

Sim. Temos tudo para ser a locomotiva e o exemplo para o mundo. E o mais fácil para ser. Maiores desafios têm os chineses. Como farão para limpar a China? Muitas vezes não se  enxerga o topo dos prédios. Olhando para o céu de Pequim e vendo tudo enevoado, podemos pensar: “isso aqui não pode ser poluição. Tem algum problema climático aqui”. Todo dia é difícil enxergar a ponta do prédio. Após fortes chuvas e ventania o céu pode ficar limpo, mas a situação volta a ficar turva de novo devido à poluição. Como eles vão limpar isso? É geração. Como é que se vai desligar as térmicas? Você coloca duas, ou dez, para tirar uma, duas. Então é muito complicada a matriz energética na China. Nos Estados Unidos é gás, que também é difícil limpar. A Europa é pequena, todo mundo concentrado. 

No Brasil é fácil. Já estamos na frente. É só parar o desmatamento ilegal. E como se faz isso? Primeiro, com fiscalização. E outra, desenvolver a região amazônica, onde moram milhões. Essas pessoas precisam viver. Se não têm o que fazer, vão derrubar árvores e queimar, fazer qualquer coisa para ganhar dinheiro e comprar comida. Tem que ter educação, emprego, uma indústria com base na Amazônia, seja ela farmacêutica, cosmética, mineral ou outra qualquer... A riqueza lá é muito grande.

O gás metano da pecuária será ajustado rapidamente, porque quem cuida do gado são as grandes empresas. Sabem que será problema para elas e encontrarão a solução. O saneamento básico, que com o marco regulatório está encaminhado, acredito que o PIB crescerá um ou dois pontos. Afinal, tem muita obra a ser feita para cem milhões de pessoas sem esgoto.

Podemos reduzir drasticamente a emissão de CO2 em dez anos no Brasil. Os outros países vão minimizar, não arrumar. Basta ter vontade política. O Brasil é uma potência.
Mensagem final.

Mensagem final.

Queremos enfatizar que a economia circular e os produtos não são um tabu. Não podemos enxergar isso como uma obrigação, mas sim vislumbrar como uma oportunidade. Muitas vezes o caminho mais fácil é fazer o que sempre fizemos, mas o fundamental é ver possibilidades novas, criando um ambiente propício à chegada das novas tecnologias e modos de vida. As manchetes de hoje falam constantemente de mudanças climáticas. As letrinhas ESG (Environment, Social and Governance), que em português podemos traduzir como Meio Ambiente, Social e Governança, é uma necessidade e não apenas um modismo. Isso é o que fazemos na Polimix Ambiental.”

Fundada em 1976, a Organização Polimix é um conjunto de empresas com unidades de negócios pelo Brasil e exterior, com mais de 7 mil integrantes. Atuando inicialmente nas áreas de concreto, agregados e cimento, o grupo vem expandindo seus horizontes e hoje também agrega em seu portfólio participações em empresas de transporte a granel, argamassa, cal industrial, energia renovável e economia circular.