O 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio, uma realização da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), em parceria com a B3 - a bolsa do Brasil, colocou em evidência a necessidade de uma atuação mais efetiva e proativa do setor privado diante da mudança fundamental na geopolítica. “Os setores privados de cada país precisam se relacionar uns com os outros e se sintonizar em objetivos comuns, interagindo e se aproximando para facilitar a lógica da diplomacia entre as nações”, explicou Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG, no encerramento do evento, que reuniu cerca de 800 participantes no Sheraton, em São Paulo.
Pelo fato de a geopolítica estar na direção do mundo, Carvalho afirmou que as agroalianças também englobam a integração entre o agro e a indústria para, cada vez mais, transformar as indústrias em biorrefinarias, que vão agregar valor ao processo agrícola e econômico.
Outra questão importante para o agro no que tange às relações entre os países é desperdiçar as janelas de oportunidade. “No campo da política, muitos países souberam aproveitar essas janelas, pois possuíam um projeto nacional. Infelizmente, o Brasil parece que perdeu a janela e agora estamos sofrendo”, lamentou Carvalho, que sintetizou os temas debatidos no CBA 2025: segurança alimentar, segurança energética e o potencial de crescimento do mercado de capitais no âmbito do agro.
Ele comentou ainda a entrega do documento “Agronegócio frente às Mudanças Climáticas”, que trata de três questões fundamentais: adaptação e mitigação, mercado de carbono e financiamento.
Transição energética
A mesa redonda “Transição Energética”, moderada por Ingo Plöger, vice-presidente da ABAG, debateu as principais oportunidades e desafios relacionados ao tema.
O Embaixador Alexandre Parola comentou sobre o esgotamento das fontes fósseis e a mudança climática que leva a urgência para essa transição. Mencionou a curva de custo em "U", uma representação teórica que sugere que o desenvolvimento econômico pode ter um impacto negativo inicial no meio ambiente, mas que, com o tempo e o aumento da renda, as sociedades podem se tornar mais preocupadas com a qualidade ambiental e tomar medidas para reduzir a degradação.
"O Brasil tem 10 vezes mais reservas e produzimos 200 vezes menos e diante disso precisamos potencializar nossos recursos. Esse e nosso desafio", pontuou Parola.
William Vella Nozaki, conselheiro de Administração da Transpetro e gerente Executivo de Gestão Integrada da Transição Energética na Petrobras, mencionou que a existem várias transições em curso a nível global e, com cada país apresentando sua dificuldade. “Este cenário, é observado por uma demanda de energia crescente no mundo, por seu padrão de consumo e, agora o uso de IA que consome muita água e energia", analisou.
O executivo disse que dada as características do Brasil com sua matriz energética, há uma janela de oportunidades econômicas ao longo dos próximos anos. “A Petrobras observa o período de 2025 até 2040 um caminho rumo aos biocombustíveis com mais eficiência e a partir de 2040 com uma maior capacidade de eletrificação. O desafio será articular essa transição com segurança e novas fontes", revelou.
Segundo Luís Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar existe uma urgência climática em curso e a não contenção do aquecimento prejudica a produção de alimentos, os recursos se tornam escassos e a demanda continua crescente. “Acredito que tudo que e produtivo e eficiente precisa ser aproveitado. O carro movido a etanol hoje já é mais competitivo. Na minha visão não faz sentido pensar em uma única tecnologia para o mundo. Sou otimista sobre o futuro do Brasil, do ponto de vista da transição energética olhando para nossas condições ambientais e fundamentos. Brasil caminha para ser protagonista da agenda verde”, analisa o executivo.
O deputado Federal Arnaldo Jardim lamentou não haver um projeto nacional, devido a polarização. “Espero que isso emerja em um futuro cenário político, pois o projeto nacional já produz consenso e o primeiro deles é o agro, inovador e sustentável, que dialogue com a questão ambiental”, explicou.
Já Anelcindo Souza, vice-presidente de Marketing de Sementes da Corteva, mencionou que os biocombustíveis são elementos centrais para a Corteva e no Brasil estamos sendo feitos novos experimentos em campo para encontrar soluções para suportar extremos climáticos.
Mercado de capitais deve ampliar sua participação no agro
Atualmente, o mercado de capitais tem sido importante para o agronegócio, oferecendo instrumentos para fomentar a produção de alimentos, fibras e energias renováveis. Para os próximos anos, os debatedores do painel “Agrobrasil com Crescimento Sustentável: Financiamento e Mercado de Capitais”, do 24º Congresso Brasileiro do Agronegócio, avaliam que sua participação tem o potencial de se expandir, contribuindo para o crescimento do setor. O evento é uma realização da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), em parceria com a B3 - a bolsa do Brasil, e acontece nesta segunda-feira (11/8), em São Paulo (SP).
“O mercado de capitais vem avançando nos últimos cincos anos e se tornou uma alternativa. Hoje, o Fiagro e o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) representam cerca de 3% do mercado de capitais, com espaço para crescer”, afirmou Luiz Masagão, vice-presidente de Produtos e Clientes da B3, que acrescentou que grande parte do desenvolvimento do mercado de capitais vem dos estímulos que foram criados.
Nesse sentido, a B3 está trabalhando em novas iniciativas financeiras. "Queremos disponibilizar ferramentas para ajudar no desenvolvimento do mercado de capitais e faço um chamado frente a questão da precificação, ajustes de contrato para desenvolver a infraestrutura da cadeia e agregar valor ao mercado brasileiro", completou.
Bruno Gomes, superintendente de Securitização e Agronegócio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ponderou sobre a importância de os empreendedores do agro conhecerem o mercado de capitais. “Hoje a exigência é de pessoa jurídica, mas dentro da CVM estamos analisando a possibilidade de produtores pessoas físicas com balanço auditado e critérios de governança acessar o mercado de capitais, assim como as cooperativas", disse.
Para Bruno Santana, CEO e fundador da Kijani Investimentos, há alguns anos, o mercado financeiro tinha dificuldade de enxergar o protagonismo do agro, mas essa realidade mudou, na medida em que foram sendo introduzidos novos instrumentos e a legislação. “Em 2024, entendemos o ciclo do Agro e isso, ajudou a acelerar o mercado de capitais. Este ano está sendo um ano de amadurecimento da legislação e do mercado de capitais. Para 2026, vejo um cenário promissor para o financiamento da cadeia com um potencial para o futuro e os investimentos", analisou.
Um dos instrumentos fundamentais avaliados pelos debatedores foi o Fiagro, com 650 mil investidores e patrimônio líquido de R$ 44 bilhões. “O Fiagro chegou para ajudar e potencializar o mercado de ativos da securitização. Há espaço para crescimento desde que haja dados coerentes, conhecimento educacional para corroborar a tomada de decisão dos investidores”, destacou Flavia Palacios, diretora da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA).
A fundamental contribuição do cooperativismo foi lembrada por Raphael Silva de Santana, gerente Nacional de Agronegócios do SICOOB. “O protagonismo é do produtor e cabe ao cooperativismo de crédito estar presente em todas as praças. Acreditamos que o cooperativismo irá ajudar ao mercado de capitais acessar este público", finalizou.